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domingo, 19 de julho de 2020

Obrigar A Criança A Cumprir Regras Não Fará Com Que Ela Seja Disciplinada




Ouvimos há tempos que ‘é de menino que se entorta o pepino’; expressão que indica que que é na infância que a criança aprende e apreende como se comportar no meio onde se vive; que para ser membro desse meio, é preciso seguir suas regras. A premissa inicial é verdadeira. Pois tudo o que nos tornamos na vida adulta é resultado dos saberes capturados na primeira infância, quando o nosso único trabalho era o brincar. E foi – ou pelo menos deveria ser – brincando que aprendemos a seguir regras, a lidar com a frustração, com a perda, com a derrota, a reconstruir o que foi destruído, a esperar a vez do outro, a respeitar e cumprimentar a vitória do outro, a compartilhar objetos, a competir e, especialmente, a cooperar.

Entretanto, muitos pais, regidos pela falsa pedagogia de recompensas e punições, não compreendem que a simples imposição de regras prontas, preestabelecidas, não fará com que a criança se torne um ser disciplinado, pelo contrário, regras prontas inibem o desenvolvimento integral da criança.  Porque há de se levar em consideração a perspectiva da criança, o contrato grupal da família, esforçando-se para estabelecer regras justas, adequadas e compreensivas, para que aquele pequeno grupo social se sinta melhor juntos do que separados.

Como estabelecer um espaço familiar-moral-democrático onde as regras são valorizadas?

As regras são importantes para termos diretrizes. Já imaginou uma cidade sem leis de trânsito? Se com as leis, é um caos. Seria impossível transitar nas ruas, sem elas. Porém, mais importante do que seguir as regras, é se sentir livre. Explico: quando se é, um membro participativo na construção das leis, você não se sente impelido a cumpri-las. Você as cumpre porque ajudou a construí-las e elas então, são parte de você e não apenas de quem as construiu sem que você ao menos se desse conta.
Mas, ao ajudar a criar a regras, você se sente mais interessado no cumprimento delas. Elas foram uma construção coletiva. Ao contrário, simplesmente repetir, e/ou se moldar ás regras – na verdade – não torna o indivíduo uma pessoa disciplinada. Outrossim, não participar da construção das regras – fará com que o medo da punição afete o seu desenvolvimento psicossocial, e principalmente suas funções cognitivas, que implicam em automonitoramento, autocensura, autodisciplina. E isso deve ser feito desde a primeira infância, enquanto a criança brinca. Seja em casa, na creche ou na escola.

As regras devem ser como contratos grupais

Pais demasiado autoritários e inflexíveis ou excessivamente tolerantes e liberais podem potenciar o desenvolvimento de problemas comportamentais nos filhos. De um modo geral, crianças com regras muito rígidas ou demasiado permissivas terão muitas dificuldades em obedecer a instruções, em aceitar críticas, em tomar decisões e em se preocupar com as consequências dos seus atos. Serão crianças com baixa auto-estima, o que afetará a sua educação integral: moral, emocional, psicossocial, cognitiva, e psicomotores.

A criança não quer desobedecer as regras, ela quer ajudar a construí-las

Não obrigue a criança a cumprir as regras, convide-a para ajudar na criação delas. Nunca castigue o seu filho por descumprir regras preestabelecidas. Os atos de rebeldia da crianças, são portas muito interessantes para a abertura de preciosos diálogos para construção do autoconhecimento e da personalidade do indivíduo.
uma das metas dos pais,  é criar – em casa – um sentido democrático de comunidade, no qual o respeito mútuo seja praticado. Onde as crianças respeitam os pais; onde os pais respeitam as crianças, e as crianças respeitam umas às outras. A atmosfera de respeito é necessária para promover o desenvolvimento de autorregulação e dos sentimentos autoconstruídos, da criança.

Somente crianças autorreguladas, sabem como se comportar na falta de um adulto

Uma valiosa forma que promove a autorregulação das crianças é a de envolvê-las na tomada de decisões sobre as regras, na criação e no procedimentos que regulam as suas vidas; decisões diárias e específicas sobre o que elas farão como membros daquela família; que naquela família todos têm direitos e deveres; todos criam as regras e todos as cumprem.
Através do envolvimento das crianças com o fazer as regras, as crianças têm a chance de entender porque elas têm regras particulares. Isto também conduz a criança ao sentimento de pertencimento do grupo social, onde aquelas regras acontecem. Quando as crianças participam da elaboração das regras de como a sua rotina será organizada, elas se sentem, mais prontamente dispostas ao segui-las.

É fundamental que a criação das regras seja monitorada e explicada pedagogicamente de acordo com a idade da criança

Quando sugiro aos pais a refletirem sobre  convidar seus filhos para criar as regras,  ao invés de – tão somente – obriga-los a cumpri-las, não estou dizendo que os adultos devem solicitar a aprovação das crianças para regras essenciais, tais como: tomar banho, escovar os dentes, arrumar a cama, recolher os brinquedos, hora de ver TV, hora de dormir, etc.  Contudo, uma vez que você convida o seu filho para elaborar essas simples regras, você dá a ele a clara oportunidade de exercitar a autorregulação. Podem desenhar juntos a tabela de regras a serem seguidas.  O temor de que as crianças possam criar regras inviáveis, ou que decidam que as regras são desnecessárias, não é concretizado em minha prática do método.  Entretanto, o exercício de liderança dos pais – firmeza com afeto – é indispensável para conduzir o processo de elaboração e exceção das regras, e assim, instigar nas crianças,  atitudes positivas sobre a importância de se seguir as regras.

O “não” nas regras das crianças

O ‘não’ realmente é inevitável na educação; na construção de um ser humano integral. Mas o cérebro é ‘programado’ para infringir as regras. Do contrário, a roda jamais teria sido inventada. Dessa forma, desobedecer as regras é para o cérebro a chance de fugir do tédio e inventar a roda.
Com isso, regras concretas como ‘não morder’, ‘não bater’, ‘não chutar’, ‘não gritar’, ‘não espernear no supermercado’ e etc, são facilmente desobedecidas. A proibição é um limite que o cérebro humano, jamais compreenderá. Ele tem a necessidade evolutiva de derrubar os muros para enxergar mais além, por isso ele precisa aprender a importância do ‘não’, para que ao invés de derrubar o muro, compreenda que o muro existe para sua própria segurança.

A razão para a regra deve estar dentro da própria regra

Os pais continuamente precisam mostrar razões para existência das regras e dos ‘nãos’.  Uma forma a ser feita é incluir a razão na regra. Por exemplo, se a criança sugere fazer uma regra declarando: “Não correr dentro de casa”, os pais podem perguntar ela por que não se deve correr dentro de casa. Quando a criança responderá que se correr poderá cair e se machucar, a regra então será pode cair e machucar-se, a será: se correr pela casa você pode cair e se machucar, melhor não correr. Ao invés da regra ‘não coma no sofá’, coloque ‘as refeições são mais felizes quando feitas á mesa’.  A razão para a regra torna-se parte da própria regra.
Este texto é de autoria da escritora, psicopedagoga e psicanalista Clara Dawn – Exclusivo para o Portal Raízes. É proibida a reprodução parcial, ou total, sem a nossa prévia autorização.(Lei Nº 9.610 de 19 de fevereiro de 1998).

sexta-feira, 1 de julho de 2016


Lei Menino Bernardo completa dois anos de incentivo à educação sem violência



Akemi Nitahara - Repórter da Agência Brasil
Um evento com exposição itinerante, roda de conversa e palestra na Defensoria Pública do Rio de Janeiro lembrou hoje (29) os dois anos de promulgação da Lei 13.010/2014, conhecida como Lei Menino Bernardo, que estabelece como direito da criança e do adolescente serem educados e cuidados sem o uso de castigos físicos ou de tratamento cruel ou degradante.
O nome da lei é uma homenagem ao menino Bernardo Boldrini, morto em abril de 2014, aos 11 anos, em Três Passos (RS). Os acusados são o pai e a madrasta do menino, com ajuda de uma amiga e do irmão dela. Segundo as investigações, Bernardo procurou ajuda para denunciar as ameaças que sofria.
O evento foi organizado pela Rede Não Bata, Eduque, que trata do tema há dez anos e ajudou na discussão para aprovação da lei. A coordenadora da organização, Márcia Oliveira, disse que a lei é um marco no combate à violência contra as crianças, assim como a Lei Maria da Penha é no caso da violência contra a mulher.
“A Lei Menino Bernardo traz um novo olhar sobre o processo educativo e de cuidados com crianças e adolescentes. A ideia é que os pais, responsáveis e todos os responsáveis que lidam com crianças de alguma forma, percebam que bater, xingar, humilhar, não é um processo educativo e que busquem outras alternativas.”
Segundo Márcia, a educação não violenta de crianças e adolescentes requer uma mudança cultural na sociedade brasileira. “A gente acredita que está construindo uma sociedade menos violenta, em que o processo de educação e de cuidado tem um novo olhar. Todas as pesquisas dizem que quando você bate na criança para educar, que as pessoas fazem uma confusão com disciplina, você está ensinando violência.”
Estatuto
Participante da roda de conversa, a coordenadora de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente do Estado do Rio de Janeiro, Eufrásia Souza, ressalta que a lei reafirma os direitos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e não cria nenhuma modalidade penal.
“As pessoas dizem equivocadamente que o pai que bater no filho vai ser considerado criminoso como estuprador, assassino. Não é isso. A lei não traz nenhuma tipo de punição na esfera criminal, nenhuma inovação na legislação penal, além do que já está previsto, como maus tratos, homicídio, estupro. A lei é afirmativa, ela assegura o direito de toda criança e adolescente ser criado sem o uso de castigo físico ou tratamento cruel ou degradante”, explicou.
Segundo a médica pediatra Rachel Niskier, do Instituto Fernandes Figueira e da Sociedade Brasileira de Pediatria, pesquisas comprovam os malefícios da violência no desenvolvimento da criança e do adolescente.
“A criança que é criada com violência, xingamento, palmadas, tapinha, tapões, não importa, ela cresce insegura, com maior possibilidade de desenvolver mais tarde, seja na adolescência ou na fase adulta, problemas de comportamento, chegando até a marginalidade, problemas de saúde mental, depressões, suicídio e outros problemas que podem interferir na vida pessoal e social dela”, listou. “Óbvio que são casos extremos”, acrescentou.
Para a pediatra, a lei sozinha não vai fazer “milagre social”, mas é um avanço. “Quando atendo um menino que fica sozinho em casa doze horas porque sua mãe precisou sair de casa de madrugada para fazer faxina a três horas de ônibus da sua casa e esse menino ficou sozinho sem um acompanhamento da sua comunidade, sem a proteção das políticas públicas que lhe dessem escola de qualidade em tempo integral, possibilidade de outras atividades lúdicas esportivas culturais, eu sinto até uma pena tanta discussão, tanto tempo jogado fora, quando se sabe que sem uma estrutura social, política e econômica adequada não adianta que milagres não acontecem”, lamentou.
Experiências
Bolsista da Rede, Tiago de Araújo Silva, 17 anos, é um dos facilitadores do diálogo nas rodas promovidas pelo projeto em locais como clínicas da família e escolas. Ele conta que conseguiu melhorar a própria relação com os pais e que seus irmãos mais novos já não recebem as palmadas que ele levou quando “aprontava”. Segundo Thiago, o objetivo das rodas de diálogo é romper com o ciclo de violência na sociedade.
“A gente faz essa metodologia com adolescentes, idosos e temos visto resultado, a gente está passando a importância de não usar a violência. É um grande desafio, porque muita gente foi ensinado que bater é a forma certa de educar, mas com muita insistência e perseverança a gente vai quebrando esse pensamento deles, agora estão tendo uma visão de que bater não é certo e que educar sem violência dá certo. Idosos dizem que se arrependem de terem usado violência para educar os filhos e estão passando isso para os netos, rompendo o ciclo de violência.”
A jovem Débora da Cruz da Silva, 21 anos, integra o programa Rap da Saúde, da Secretaria Municipal de Saúde, que dialoga com outros jovens de forma lúdica e dinâmica para tratar temas relacionados à saúde.
“Tem adolescentes que são mães, que não sabiam lidar com os filhos e acabavam indo para a violência. Tem uma parte da roda que são os sentimentos, quando chega nessa parte muitas delas contam que se arrependeram, que todo o processo da roda fez com que elas mudassem a visão e já começam a pensar em estratégias, que é a última parte da roda, vê que realmente tem como educar sem violência.”
Edição: Luana Lourenço
Fonte:http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2016-06/lei-menino-bernardo-completa-dois-anos-de-incentivo-educacao-sem

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Melhor do mundo, professora usará prêmio de US$ 1 milhão na educação

Hanan Al Hroub conquistou o prêmio com metodologia baseada em jogos.
Para o G1, afirmou que a educação é capaz de recuperar o que foi perdido.

Laura LewerDo G1, em São Paulo
Melhor professora do mundo, Hanan Al Hroub dá aula para seus alunos na Samiha Khalil Mixed Secondary School (Foto: Kamal Azraq)Melhor professora do mundo, Hanan Al Hroub dá aula para seus alunos na Samiha Khalil Mixed Secondary School (Foto: Kamal Azraq)
Ajudar outros professores, fundar uma escola, apoiar universitários e apoiar os próprios filhos. Essa é só parte dos planos que a professora palestina Hanan Al Hroub, de 44 anos, tem para o prêmio de um milhão de dólares recebido por ela. A educadora nascida e criada em um campo de refugiados na Cisjordânia foi premiada com o Global Teacher Prize, que busca professores que fazem ‘contribuições excepcionais para a profissão’.

Hanan, que trabalha com crianças de seis a dez anos em uma escola governamental de Ramalá, se tornou professora primária depois que seus filhos desenvolveram problemas psicológicos e de saúde após assistirem a um tiroteio. Sem conseguir o auxílio que as crianças precisavam, iniciou, em casa, um processo de recuperação lento por meio de jogos.
Em entrevista ao G1, ela contou sua trajetória e detalhou como pretende ajudar quem passa pelas mesmas necessidades que enfrentou para promover a educação em seu país.
A experiência se tornou o pilar de todo o trabalho da professora, que, baseando-se no slogan “não à violência”, conseguiu eliminar a agressão em sala de aula e espalhar o método para outras escolas e professores, além de recuperar alunos afetados pela violência. Os jogos usados por Hanan e suas ações foram reunidas no livro ‘We Play and We Learn’, publicado apenas em páginas do Facebook por falta de verbas.
Eu vivi uma infância difícil. Cresci no campo de refugiados palestino Dheisheh em Belém, onde a privação estava por todos os lados"
Hanan Al Hroub,
professora
G1 - Como foi sua infância e a relação de sua família com a educação? 
Hanan Al Hroub - Eu vivi uma infância difícil. Cresci no campo de refugiados palestino Dheisheh em Belém, onde a privação estava por todos os lados. No entanto, as pessoas de lá desenvolveram um grande espírito de cooperação.

Meu pai de 80 anos estudou apenas até a sexta série, mas encorajou e encoraja a família a buscar educação. Minha mãe foi uma dona de casa e não recebeu nenhuma educação formal [a mãe de Hanan morreu há 25 anos após enfrentar um câncer]. Todos os meus irmãos são formados, um em administração de negócios, o segundo em contabilidade, o terceiro em jornalismo e o resto terminou o ensino médio e foi trabalhar com negócios. Minhas três irmãs são professoras.
Os soldados de Israel atiraram no carro e meu marido foi atingido no ombro."
Hanan Al Hroub
G1 - Você diz que as coisas mudaram na sua vida quando seus filhos foram vítimas de um ato de violência. O que aconteceu e como isso os afetou?
Hanan Al Hroub - Em 2000, quando meus três filhos pequenos voltavam da escola com o pai deles e a esposa de seu tio, eles cruzaram o ponto de verificação [barreira militar criada por Israel] entre Belém e Wadi Fukin, onde morávamos. Os soldados de Israel atiraram no carro e meu marido foi atingido no ombro. Minhas filhas gêmeas tinham apenas nove anos e o irmão menor estava na primeira série.

Antes disso, eles eram normais, sem problemas psicológicos ou de saúde. Eram espertos e amavam sua escola. Depois, suas atitudes e comportamentos foram afetados. Tive que fazer muitas pesquisas sozinha para encontrar a melhor maneira de ajudá-los.
Depois do ataque, perderam a confiança, se tornaram arredios e ficaram com medo de ir para a escola por um tempo."
Hanan Al Hroub
G1 - Como foi o processo para recuperá-los do trauma?
Hanan Al Hroub - Eu vi o medo experimentado pelos meus filhos, como isso afetou o bem estar e o psicológico deles. Depois do ataque, perderam a confiança, se tornaram arredios e ficaram com medo de ir para a escola por um tempo.

Combatemos isso como uma família unida pedindo conselhos de profissionais, de psiquiatras a médicos. Também tivemos discussões e consultas com a administração da escola. Os professores, no entanto, não eram treinados para ajudar crianças a lidar com traumas.
Como resultado, nós os tratamos e os ensinamos em casa e progredimos. Eles conseguiram completar seus estudos e ficaram bem academicamente. Sua confiança e sociabilidade retornaram gradualmente também.
G1 - Qual foi o momento decisivo para você se tornar uma professora?
Hanan Al Hroub - O que aconteceu com meus filhos foi um momento decisivo para mim. Eu também vi que tantas outras crianças, direta ou indiretamente, são expostas à violência na Palestina e precisam de cuidados especiais, paciência e apoio em sua educação escolar. Por causa disso, decidi me tornar uma professora primária que pudesse ajudar crianças em escolas públicas que estão passando por esse tipo de trauma.
A palestina em seu trabalho, onde usa o método de ensinar por meio de jogos (Foto: Kamal Azraq)A palestina em seu trabalho, onde usa o método de ensinar por meio de jogos (Foto: Kamal Azraq)

Melhor do mundo, professora usará prêmio de US$ 1 milhão na educação

Hanan Al Hroub conquistou o prêmio com metodologia baseada em jogos.
Para o G1, afirmou que a educação é capaz de recuperar o que foi perdido.

Laura LewerDo G1, em São Paulo
Melhor professora do mundo, Hanan Al Hroub dá aula para seus alunos na Samiha Khalil Mixed Secondary School (Foto: Kamal Azraq)Melhor professora do mundo, Hanan Al Hroub dá aula para seus alunos na Samiha Khalil Mixed Secondary School (Foto: Kamal Azraq)
Ajudar outros professores, fundar uma escola, apoiar universitários e apoiar os próprios filhos. Essa é só parte dos planos que a professora palestina Hanan Al Hroub, de 44 anos, tem para o prêmio de um milhão de dólares recebido por ela. A educadora nascida e criada em um campo de refugiados na Cisjordânia foi premiada com o Global Teacher Prize, que busca professores que fazem ‘contribuições excepcionais para a profissão’.
Em entrevista ao G1, ela contou sua trajetória e detalhou como pretende ajudar quem passa pelas mesmas necessidades que enfrentou para promover a educação em seu país.
Hanan, que trabalha com crianças de seis a dez anos em uma escola governamental de Ramalá, se tornou professora primária depois que seus filhos desenvolveram problemas psicológicos e de saúde após assistirem a um tiroteio. Sem conseguir o auxílio que as crianças precisavam, iniciou, em casa, um processo de recuperação lento por meio de jogos.
A experiência se tornou o pilar de todo o trabalho da professora, que, baseando-se no slogan “não à violência”, conseguiu eliminar a agressão em sala de aula e espalhar o método para outras escolas e professores, além de recuperar alunos afetados pela violência. Os jogos usados por Hanan e suas ações foram reunidas no livro ‘We Play and We Learn’, publicado apenas em páginas do Facebook por falta de verbas.
Eu vivi uma infância difícil. Cresci no campo de refugiados palestino Dheisheh em Belém, onde a privação estava por todos os lados"
Hanan Al Hroub,
professora
G1 - Como foi sua infância e a relação de sua família com a educação? 
Hanan Al Hroub - Eu vivi uma infância difícil. Cresci no campo de refugiados palestino Dheisheh em Belém, onde a privação estava por todos os lados. No entanto, as pessoas de lá desenvolveram um grande espírito de cooperação.

Meu pai de 80 anos estudou apenas até a sexta série, mas encorajou e encoraja a família a buscar educação. Minha mãe foi uma dona de casa e não recebeu nenhuma educação formal [a mãe de Hanan morreu há 25 anos após enfrentar um câncer]. Todos os meus irmãos são formados, um em administração de negócios, o segundo em contabilidade, o terceiro em jornalismo e o resto terminou o ensino médio e foi trabalhar com negócios. Minhas três irmãs são professoras.
Os soldados de Israel atiraram no carro e meu marido foi atingido no ombro."
Hanan Al Hroub
G1 - Você diz que as coisas mudaram na sua vida quando seus filhos foram vítimas de um ato de violência. O que aconteceu e como isso os afetou?
Hanan Al Hroub - Em 2000, quando meus três filhos pequenos voltavam da escola com o pai deles e a esposa de seu tio, eles cruzaram o ponto de verificação [barreira militar criada por Israel] entre Belém e Wadi Fukin, onde morávamos. Os soldados de Israel atiraram no carro e meu marido foi atingido no ombro. Minhas filhas gêmeas tinham apenas nove anos e o irmão menor estava na primeira série.

Antes disso, eles eram normais, sem problemas psicológicos ou de saúde. Eram espertos e amavam sua escola. Depois, suas atitudes e comportamentos foram afetados. Tive que fazer muitas pesquisas sozinha para encontrar a melhor maneira de ajudá-los.
Depois do ataque, perderam a confiança, se tornaram arredios e ficaram com medo de ir para a escola por um tempo."
Hanan Al Hroub
G1 - Como foi o processo para recuperá-los do trauma?
Hanan Al Hroub - Eu vi o medo experimentado pelos meus filhos, como isso afetou o bem estar e o psicológico deles. Depois do ataque, perderam a confiança, se tornaram arredios e ficaram com medo de ir para a escola por um tempo.

Combatemos isso como uma família unida pedindo conselhos de profissionais, de psiquiatras a médicos. Também tivemos discussões e consultas com a administração da escola. Os professores, no entanto, não eram treinados para ajudar crianças a lidar com traumas.
Como resultado, nós os tratamos e os ensinamos em casa e progredimos. Eles conseguiram completar seus estudos e ficaram bem academicamente. Sua confiança e sociabilidade retornaram gradualmente também.
G1 - Qual foi o momento decisivo para você se tornar uma professora?
Hanan Al Hroub - O que aconteceu com meus filhos foi um momento decisivo para mim. Eu também vi que tantas outras crianças, direta ou indiretamente, são expostas à violência na Palestina e precisam de cuidados especiais, paciência e apoio em sua educação escolar. Por causa disso, decidi me tornar uma professora primária que pudesse ajudar crianças em escolas públicas que estão passando por esse tipo de trauma.
A palestina em seu trabalho, onde usa o método de ensinar por meio de jogos (Foto: Kamal Azraq)A palestina em seu trabalho, onde usa o método de ensinar por meio de jogos (Foto: Kamal Azraq)
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terça-feira, 12 de abril de 2016

"A escola não é um edifício, são as pessoas"

"A escola não é um edifício, são as pessoas", diz idealizador da Escola da Ponte

09/04/2016 14h50



Mariana Tokarnia – Repórter da Agência Brasil

A aprendizagem não depende de edifício, salas de aula, quadro ou giz. Não precisa sequer de aulas no modelo tradicional. A escola é feita de pessoas e é nessas pessoas que todo o sistema de educação deve focar. Este conceito educacional, que mais parece utopia, vem sendo colocado em prática em escolas no Brasil e no restante do mundo. O professor José Francisco de Almeida Pacheco é um dos que mostrou que é possível educar de maneira inovadora e inclusive melhorar indicadores educacionais com esses métodos. 
Ele é o idealizador da chamada Escola da Ponte, em Portugal, um projeto educacional que tem como base uma escola sem séries, sem prova e focada na autonomia e protagonismo do aluno. Pacheco é português, mas acredita que é do Brasil que partirão as ideias que poderão transformar a educação no mundo.
Atualmente, mora em Brasília e integra um grupo de trabalho do Ministério da Educação (MEC) para mapear escolas inovadoras. O grupo chegou a 178 escolas no país, entre estabelecimentos das redes pública e privada. Ele conversou com a Agência Brasil sobre suas principais ideias e sobre os rumos da educação no país. Segundo ele, o Brasil tem tudo que precisa para oferecer uma educação de qualidade. No entanto, é preciso que as escolas tenham autonomia. “Enquanto não houver escolas autônomas, é uma ilusão pensar que as coisas vão melhorar”.
Lei a seguir os principais trechos da entrevista:
Agência Brasil: O que é necessário para se ter uma educação de qualidade?

José Pacheco: O que é preciso é acesso à informação e um mediador chamado professor. Quando falamos em escola pensamos no edifício, a escola não é um edifício, a escola são as pessoas. O que uma criança em idade escolar aprende dentro do edifício da escola que não pode aprender fora dela? Não perca muito tempo pensando. Nada. No Brasil, o [antropólogo e educador] Tião Rocha fez uma escola debaixo de uma mangueira, que nem edifício tem. Há cursos a distância, que nem edifício têm. Então, por que temos que pensar que todos têm que ir para lá? Pior do que isso, em muitas áreas rurais fecham-se escolas e os alunos levantam-se às 4h da manhã, com sono, para entrar no ônibus, para andar três hpras, por caminho de terra, para receber quatro horas de aula e voltar. A fortuna que se gasta em compra, com manutenção, combustível,  seguro, pagamento ao motorista, etc, as vezes leva quase metade do orçamento da educação.

Agência Brasil: Como deve ser formado esse professor?

Pacheco: É um professor como qualquer outro, feito com a mesma matéria, com a mesma formação, mas que em determinado momento da vida quer ser honesto consigo mesmo, ser ético. Se o professor dá aula e percebe que não está ensinando a todos, não pode continuar fazendo aquilo porque está excluindo, negando um direito. Se um professor diz: “Mas eu não sei trabalhar com este aluno”. Se não sabe, vai aprender. Os professores chegam da universidade cheios de Vygotsky [Lev S. Vygotsky], Piaget [Jean Piaget] e não sabem fazer mais do que dar aula. E dar aula é contrário ao que se lê na teoria. Quem lê Vygotsky não pode continuar dando aula. O professor forma-se através da sua própria prática com os outros, transforma-se com os outros, a profissão de professor não é um ato solitário, tem que ser um ato solidário. O professor sozinho em sala de aula era coisa do século 19, das salas de aula dos conventos, da Revolução Industrial. E esse professor merece ter um bom salário, e pode ter, voltando à questão anterior. O dinheiro que hoje é gasto com educação chega e sobra para pagar bem os professores.

Agência Brasil: Isso falando no nosso orçamento atual?

Pacheco: Sim, cerca de R$ 100 bilhões.

Agência Brasil: E qual o papel da universidade?

Pacheco: O que a universidade tem que perceber é que o modelo de ensino faliu. Há muito tempo. Quando ela reproduz esse modelo, ela está sendo a matriz do que é a escola. A universidade parou no tempo. Estou falando do curso de pedagogia, de formar professores. Quando eu fui professor de pedagogia, o que eu encontrei foram professores que estavam mal. Eu perguntava: "por que dão aula?" Eles não sabiam, mas diziam que eram obrigados a dar aulas. "Mas obrigados por quem?" "Mandam que eu ponha no sumário o que eu vou dar no semestre”. E eu dizia: "mas com pode ser? Não sabem que, pela teoria, dar aula é inútil? Então por que dão aula?" "Damos porque nos obrigam". É esquizofrenia total. Eu compreendo os professores universitários, por isso que eu fui embora e não voltei mais. Mas acompanho as universidades, trabalho com universidades e respeito o trabalho que eles fazem. Há universidades no Brasil que já não têm aula nem turma.

Agência Brasil: A Escola da Ponte foi criada em uma área de maior vulnerabilidade, voltada para aqueles tidos como os piores alunos. Que diferença faz dedicar os melhores projetos para estudantes em situação de maior vulnerabilidade?

Pacheco: Essa nomeclatura de melhores e piores existe na escola tradicional, porque na escola dita renovada, transformada, todos são melhores, cada um no seu momento, cada um segundo seus valores. Quando se fala em educação no campo, educação especial, educação de adultos, educação formal, informal, eu me pergunto: "por que se fala assim? Por que não se fala só em educação?" Se as escolas desenvolvessem um trabalho em que cada um fosse acolhido e no qual fosse dada a condição de aprender, não seria preciso falar de programas, projetos e planos. A escola cumpriria seu projeto político-pedagógico. Um dos problemas é esse, que a escola não cumpre seu projeto político-pedagógico e, como não cumpre, continua a dar aula e a ter turma. Há crianças que não aprendem.

Agência Brasil: Atualmente, quando há uma troca política, há grandes impactos na educação. Como as escolas podem ser menos afetadas pelas decisões governamentais?

Pacheco: A meta 19 [do Plano Nacional de Educação - lei que define metas para melhorar a eduação em dez anos] estabelece que municípios, estados e o Distrito Federal deverão criar condições para o excercício da autonomia e condições de gestão democrática nas escolas. Se isso for concretizado, se forem alcançados os termos de autonomia das escolas, elas vão usar da autonomia pedagógica, administrativa, financeira. Mesmo que haja mudança da orientação politica, da prefeitura, as escolas continuarão, com toda calma, a desenvolver seu projeto. Enquanto não houver escolas autônomas, é uma ilusão pensar que as coisas vão melhorar.

Agência Brasil: Como o senhor vê a educação no Brasil?  

Pacheco: Quando se fala da educação no Brasil, fala-se dos defeitos, das cifras, das pesquisas, do Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica], que são efetivamente trágicos. Eu prefiro falar da parte saudável do Brasil. Prefiro ver o copo meio cheio e não meio vazio. Fico muito feliz por aprender com escolas brasileiras, com autores brasileiros, que estão transformando o Brasil, sem que o Brasil perceba. Pessoas que vão colaborando com as secretarias de educação, com o MEC, muitas vezes tendo contra si as secretarias e os burocratas do MEC. Vivo muito nessas escolas onde eu aprendo com professores que eu me orgulho de acompanhar e que sabem que é no Brasil que está nascendo a nova educação do mundo. Não é na Europa, não é nos Estados Unidos. Eu diria que, além dessa parte educacional que põe professores doentes e alunos que não aprendem, há a parte saudável, uma grande parte que eu conheço, outra que eu não conheço. Elas mostram que o Brasil tem tudo que precisa: bons teórios, bons projetos, bons professores. Só falta fazer. E falta que as universidades percebam que há esses projetos, que o MEC crie condições e que as secretarias celebrem termos de autonomia da escola. O resto é só deixar com a formação dos professores e com a comunidade.

Edição: Denise Griesinger
FONTE :http://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2016-04/escola-nao-e-um-edificio-sao-pessoas-diz-idealizador-da-escola-da-ponte

Papa defende educação sexual e diz a pais que evitem controle excessivo


O papa Francisco recomendou hoje aos pais que evitem "uma invasão nociva" da vida pessoal dos filhos porque, garantiu, "a obsessão não é educativa", embora faça "sempre falta alguma vigilância".
"A obsessão não é educativa e não se podem controlar todas as situações pelas quais poderá passar um filho", lembrou na exortação apostólica "Amoris Laetitia" (A alegria do amor), publicada hoje.
Francisco sublinhou que "a família não pode renunciar a ser um lugar de apoio, de acompanhamento, de guia" dos filhos e recomendou que "não se deve deixar de questionar quem oferece entretenimento e diversão, quem entra nos seus quartos pelos ecrãs".
"Faz sempre falta alguma vigilância. O abandono nunca é saudável. Os pais devem orientar e alertar as crianças e adolescentes para que estas saibam enfrentar situações em que possam existir riscos, por exemplo, de agressões, de abuso ou de consumo de drogas", afirmou.
Mas "se um pai está obcecado em saber onde está o filho e controlar todos os seus movimentos, apenas procura dominar o seu espaço".
"Desse modo, não o está a educar, a fortalecer, não o está a preparar para enfrentar os desafios. O que interessa sobretudo é gerar no filho, com muito amor, processos de amadurecimento da sua liberdade, de capacitação, de crescimento integral", explicou.
Francisco defendeu que "só assim esse filho terá em si mesmo os elementos de que precisa para saber defender-se e para actuar com inteligência e astúcia em circunstâncias difíceis".
Por esse motivo, "a grande questão não é onde está fisicamente um filho, com quem está em preciso momento, mas onde está num sentido existencial, onde está posicionado nas suas convicções, objetivos e desejos".
Como solução, o papa afirmou que "só os momentos passados com eles (jovens), a falar com simplicidade e carinho de coisas importantes e possibilidades sãs criadas para que eles ocupem o seu tempo, permitirão evitar uma invasão nociva".
No capítulo intitulado "Sim à educação sexual", Francisco considerou ser "difícil pensar a educação sexual numa época em que a sexualidade tende a banalizar-se e a empobrecer-se". Por outro lado, "só pode ser entendida no marco de uma educação para o amor".
"A educação sexual deve dar informação, mas sem esquecer que as crianças e os jovens não atingiram uma maturidade plena. A informação deve chegar no momento apropriado e de maneira adequada à etapa que vivem", recomendou.
"De nada serve inundá-los de dados sem o desenvolvimento de um sentido crítico perante uma invasão de propostas, perante a pornografia descontrolada e a sobrecarga de estímulos que podem mutilar a sua sexualidade", acrescentou.
O papa criticou a expressão "sexo seguro" por "transmitir uma atitude negativa em relação à finalidade de procriação natural da sexualidade, como se um possível filho fosse um inimigo do qual é preciso proteção".
"Assim se promove a agressividade narcisista em vez do acolhimento. É irresponsável qualquer convite aos adolescentes para que brinquem com os seus corpos e desejos, como se tivessem maturidade, valores, compromisso mútuo e objetivos próprios do matrimónio", considerou.
A exortação 'Amoris Latetia' foi escrita a partir das conclusões dos sínodos dos bispos para a família, extraordinário e ordinário, que decorreram, respectivamente, em Outubro de 2014 e 2015.

sexta, 08 abril 2016 12:11
Publicado em Mundo
Fonte:http://www.expressodasilhas.sapo.cv/mundo/item/48253-papa-defende-educacao-sexual-e-diz-a-pais-que-evitem-controlo-excessivo